Home Saúde Especialista fala: Hipertensão arterial pulmonar. Os desafios do tratamento de doenças raras no Brasil

Especialista fala: Hipertensão arterial pulmonar. Os desafios do tratamento de doenças raras no Brasil

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No Brasil, milhares de pessoas convivem diariamente com os desafios impostos pela hipertensão arterial pulmonar (HAP), uma doença rara e progressiva. Para esclarecer o tratamento e a luta por melhores condições aos pacientes, o Portal conversou com Flávia Lima, presidente da Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas – ABRAF, que falou sobre os avanços e obstáculos enfrentados pela comunidade afetada.

Portal: Flávia, a hipertensão arterial pulmonar é uma condição rara no Brasil. Poderia explicar o que é essa doença e como ela afeta os pacientes?

Flávia: A hipertensão arterial pulmonar (HAP) é um dos tipos de hipertensão pulmonar e é uma doença grave e progressiva. Ela afeta principalmente mulheres em fase produtiva e reprodutiva e compromete atividades do dia a dia, como subir escadas ou caminhar. Em casos mais avançados, os pacientes enfrentam dificuldades ainda maiores, como tomar banho ou pentear os cabelos. A doença traz desafios significativos e limita a qualidade de vida das pessoas em atividades básicas.

Portal: Houve algum progresso significativo no tratamento dessa doença no Brasil recentemente?

Flávia: Sim, um avanço importante foi a publicação do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de Hipertensão Pulmonar no ano passado. Esse protocolo estabelece como deve ser o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes em toda a rede pública de saúde. Ele é uma conquista após quase dez anos de espera e reivindicação, já que o regulamento anterior tinha restrições significativas, como a proibição da terapia combinada, apesar do suporte de estudos clínicos robustos.

Portal: Apesar desse avanço, o acesso ao tratamento ainda apresenta dificuldades no SUS. Quais são os obstáculos enfrentados pelos pacientes?

Flávia: Infelizmente, mesmo com o protocolo em vigor, o acesso ao tratamento adequado ainda é complicado. O SUS precisa seguir processos e burocracias que muitas vezes atrasam ou até inviabilizam o fornecimento dos medicamentos essenciais. Embora existam cinco medicamentos incorporados ao SUS, como sildenafila, bosentana e ambrisentana, o medicamento selexipague, por exemplo, não está sendo fornecido em grande parte das unidades públicas de saúde do país.

Portal: Quais são os problemas específicos enfrentados pelos pacientes em relação à regulamentação dos PCDTs nos estados brasileiros?

Flávia: De acordo com levantamentos recentes da ABRAF, apenas 13 dos 27 estados brasileiros regulamentaram e implementaram os PCDTs em âmbito estadual. Isso representa cerca de 48,1% das unidades federativas. Além disso, cinco estados ainda não disponibilizam o medicamento selexipague, mesmo que ele esteja disponível no SUS. Outros 14 estados, por sua vez, não tornaram públicos os documentos necessários, o que impede a oferta desses medicamentos nas farmácias de alto custo. Isso significa que muitos pacientes enfrentam frustração ao ver a medicação disponível, mas não acessível ao seu tratamento.

Portal: Qual é a principal luta da ABRAF nesse cenário?

Flávia: Nossa luta é para que os protocolos públicos sejam efetivamente colocados em prática em todos os estados e para que haja o fornecimento de mais opções de medicamentos para o tratamento dos pacientes. Não estamos falando apenas de burocracia ou regulamentação; estamos falando da vida e da saúde de milhares de pessoas que dependem dessas medidas para ter qualidade de vida. Queremos garantir que os centros médicos de referência tenham informações claras e acessíveis e que os pacientes e familiares possam ter acesso ao tratamento de forma rápida e efetiva.

Portal: Que mensagem a ABRAF gostaria de transmitir às autoridades e à sociedade em relação à hipertensão pulmonar?

Flávia: Precisamos de uma ação conjunta entre os centros de saúde, médicos, autoridades e a sociedade. É crucial que todos os estados implementem os PCDTs e que o acesso aos medicamentos essenciais seja garantido. Estamos falando de salvar vidas, melhorar a qualidade de vida e proporcionar dignidade às pessoas que vivem diariamente com os sintomas dessa doença. Queremos que os protocolos não fiquem apenas no papel, mas que cheguem à realidade das pessoas que mais precisam.

Portal: Flávia, agradecemos pela entrevista e pelos esclarecimentos.

Flávia: Eu agradeço a oportunidade de falar sobre a luta e os direitos das pessoas com hipertensão pulmonar. Vamos continuar trabalhando para que cada paciente tenha o acesso ao tratamento necessário e possa viver com dignidade e saúde.

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