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Redes sociais impactam negativamente hábito de “sonhar acordado”

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A psicanalista Ana Volpe, membro-filiada da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo,  compartilha sua visão sobre a importância dos devaneios e dos sonhos no contexto da vida moderna. Ana destaca como a hiperconectividade afeta nossos momentos de introspecção e o impacto dos sonhos na saúde emocional.

Portal: Ana, a expressão “sonhar acordado” soa poética, mas você explica que é algo que fazemos com frequência e que tem uma função significativa para o nosso cérebro. Poderia falar mais sobre isso?

Ana Volpe: Claro. Sonhar acordado é um processo natural e muito importante, tanto neurologicamente quanto psicanaliticamente. Esses momentos de devaneio permitem que o cérebro pause, organize-se e estimule a criatividade. No entanto, a hiperestimulação da vida moderna e o uso constante das redes sociais têm reduzido esse hábito, e isso impacta a fluidez do pensamento criativo.

Portal: Então, como a tecnologia e essa constante sobrecarga de estímulos estão alterando a nossa relação com o devaneio?

Ana Volpe: Com o avanço dos smartphones e das redes sociais, estamos sempre conectados e produtivos, o que nos dá menos tempo para pausas e introspecção. Essas pausas são essenciais para o devaneio — os famosos “sonhos acordados” — que dão espaço para a nossa mente fluir. Quando não temos esses momentos, a criatividade e até a nossa saúde mental podem ser prejudicadas.

Portal: Você mencionou que o devaneio é uma expressão do inconsciente. Qual é a visão da psicanálise sobre ele?

Ana Volpe: Na psicanálise, o devaneio é um canal onde o inconsciente se expressa de forma simbólica. Freud, por exemplo, via o devaneio como uma realização de desejos reprimidos ou inconscientes, onde a pessoa fantasia sobre situações ou desejos difíceis de realizar na vida real. Já Donald Winnicott, outro importante psicanalista, vê o devaneio como um espaço de transição entre o mundo interno e externo, fundamental para o desenvolvimento da criatividade e da capacidade de relacionamento.

Portal: Podemos entender, então, que o “sonhar acordado” nos ajuda a refletir sobre nós mesmos?

Ana Volpe: Exato. Esses devaneios são uma pausa natural, que permite uma reflexão profunda e a visualização de possibilidades futuras de forma construtiva. Já os sonhos noturnos ajudam na elaboração de conflitos internos, algo que a psicanálise valoriza bastante.

Portal: Recentemente, um estudo apontou que pessoas que se lembram dos sonhos apresentam melhor regulação emocional. Qual é a sua visão sobre essa relação entre sonho e saúde mental?

Ana Volpe: Esse estudo é muito relevante. Ele mostra que pessoas que se lembram dos sonhos tendem a ter uma regulação emocional mais eficaz e reagem melhor a experiências negativas. Na psicanálise, sonhar vai além do conteúdo literal do sonho; o que importa são os significados simbólicos e as dinâmicas inconscientes que ele revela. Analisar esses sonhos oferece insights profundos no tratamento e ajuda o paciente a compreender melhor seus próprios desejos, medos e conflitos, promovendo um autoconhecimento essencial para a saúde mental.

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